A Dupla Face de Miami: Entre o Preconceito e a Descoberta
Quando aceitamos o convite de trabalho em Miami, fizemos com uma mistura de entusiasmo e desdém.
Cariocas da gema, nascidos e criados sob o sol escaldante do Rio, nutríamos um preconceito velado contra a cidade americana. Para nossa família, Miami era apenas um grande balneário de gringos ostentando suas vidas perfeitas em iates luxuosos, longe da autenticidade e da alma vibrante do Rio de Janeiro.
A Escolha Inicial: Orlando, o Refúgio Ideal
Nosso preconceito era tanto que, em um primeiro momento, nossa ideia era morar em Orlando. Ficar perto do Mickey talvez diminuísse um pouco as saudades que o Rio deixaria em nós. “Muita pose e pouca história”, pensávamos. Enquanto fazíamos as malas, já sentíamos falta das caminhadas na Lagoa, dos almoços com cerveja Original em Santa Teresa, dos desfiles das escolas de samba no carnaval, do sotaque arrastado que se misturava com o som das ondas no calçadão. Como uma cidade construída sobre o concreto americano poderia rivalizar com isso? Estávamos convencidos de que Miami seria um exílio voluntário, uma terra de plástico onde viveríamos apenas para trabalhar e estudar, e, obviamente, de certa forma fugir da violência cada vez mais presente na vida de qualquer carioca.
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Primeiras Impressões: Um Apartamento de Temporada e o Calor de Miami
Chegando aqui, nossas primeiras impressões não foram tão boas. Escolhemos um apartamento de temporada em um bairro onde o calor do verão se fazia muito presente. Sair pelas ruas, caminhando no meio do concreto, não era tarefa fácil. Por outro lado, fomos recebidos por uma amiga carioca, muito querida, que até hoje, quase três anos depois, faz um incrível trabalho de nos incluir na comunidade brasileira de Miami.
Little Havana: Um Portal para a América Latina
Aos poucos, Miami começou a revelar suas facetas escondidas. Uma caminhada despretensiosa pelo bairro de Little Havana trouxe o primeiro choque: era como se tivesse atravessado um portal de volta para a América Latina. O espanhol soava tão comum quanto o inglês, e a alegria calorosa dos latinos nos lembrava da hospitalidade carioca. O cheiro do café forte misturado ao ritmo da salsa que escapava das portas dos bares começou a quebrar nosso ceticismo.
A Confluência de Culturas: Uma Miami Desconhecida
Descobrimos que Miami não era apenas uma cidade de turistas e praias artificiais. Era uma confluência de culturas, um caldeirão efervescente onde latinos, caribenhos e americanos compartilhavam suas histórias, suas comidas e suas músicas. A diversidade que antes acreditávamos ser superficial começou a se revelar uma das grandes forças da cidade.
Nos vimos envolvidos pelas artes de Wynwood, onde grafites vibrantes coloriam paredes inteiras, transformando o bairro em uma galeria a céu aberto. O lugar fervilhava com uma energia criativa que não esperaríamos de uma cidade americana. Miami tem sua própria voz, e não era nada silenciosa.
Quebrando o Preconceito: Miami Tem Alma
Percebemos que nosso preconceito inicial não era apenas contra Miami, mas contra o desconhecido. Como bons cariocas, nos orgulhávamos do que tínhamos, julgando que nada poderia se comparar ao calor do Rio. Mas, com o tempo, Miami nos desarmou, mostrando que também tinha alma, só que uma alma própria, que dançava ao ritmo da salsa e se expressava em mil sotaques diferentes.